Métodos Ativos na Educação Musical

O Musicalizar é tornar ao indivíduo sensível e receptivo ao fenômeno sonoro promovendo nele respostas de índole musical, e assim estabelecer uma relação direta e efetiva homem música para conseguir espontaneidade nas experiências e realizações musicais.

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A educação musical, fundamentada na psicologia do desenvolvimento, encontra formas metodológicas de organizar um ensino da música mais humanizado e musicalmente ativo ouvindo os interesses do aluno, e cuidando de evitar muitas tensões corporais, um bom nível de discernimento mental, leitura autônoma com a participação do ouvido, e por tanto com um bom desenvolvimento da musicalidade.

Mas, muitos métodos e metodologias de musica, ainda fundamentam o ensino-aprendizagem no cognitivismo racional, baseados na escola Escolástica ensinando conceitos abstratos sem passar pela prática. Lamentavelmente é esta a educação musical que ainda vemos em algumas universidades, faculdades, conservatórios e bandas filarmônicas priorizando na maioria das vezes o domínio da técnica (do virtuosismo: Executar o instrumento musical buscando superar os próprios limites físicos), com dedicação quase fanática a um método e associando o talento musical do aluno ao método aplicado.

 

Caderno de Atividades musabstract_piano_art_painting_keyboard_painting_musi_abstract_art__abstract__23e7c26826e4e65ed441e58ba72c1408icalização infantil 1

 

No período Pós Revolução Francesa, começa um movimento de “democratização” do ensino da música, que passa a ser pensada como algo possível a todos. Marisa Fonterrada (2010) considera como precursores dos métodos ativos de educação musical aos suíços, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), Johann H. Pestalozzi (1746-1827) o qual organizou um livro de harmonia com prática de exercícios para a sala de aula e a Friederich Frobel, alemão, (La Educación del Hombre) considerado o fundador do Jardim de Infância.

A partir de 1940 os chamados Métodos Ativos da educação musical, inspirados em sua maioria, nas teorias de desenvolvimento, de Jean Piaget iram transformar o panorama pedagógico musical do séc. XX. (GAINZA,1987).

Os princípios básicos de este novo enfoque pedagógico têm como objetivo específico: O Musicalizar, ou seja, tornar ao indivíduo sensível e receptivo ao fenômeno sonoro promovendo nele respostas de índole musical, e assim estabelecer uma relação direta e efetiva homem música para conseguir espontaneidade nas experiências e realizações musicais.

Métodos Ativos da Educação Musical

A palavra método, talvez não seja a mais apropriada, pois, a transformação na educação vem a acontecer com uma proposta de novos enfoques e princípios influenciados pelas tendências da Arte Moderna e Contemporânea. “O método, representado por um conjunto de ideias, exemplos e sequências pedagógicas, segundo o enfoque particular de um determinado especialista, será substituído pelo princípio pedagógico, pelo objetivo, pela tendência” (GAINZA, 1987, p. 105).

Os métodos ativos de maior influência são os dos educadores: Jaques Dalcroze, Zoltan Kodàli, Edgar Willems, Carl Orff, Martenot, Shinichi Suzuki, Murray Schaffer. e no Brasil o maestro Hans-Joachim Koellreutter, que vem ainda transformando de uma prática pedagógica musical fundamentada na psicologia cognitiva.

 

A Rítmica de Emile Jaques Dalcroze.

Emile Jaques Dalcroze trabalha uma “ginástica rítmica” sem descuidar a precisão rítmica. Organiza vivências pelo movimento do ritmo e da música com o objetivo de exercitar atenção, descontração, respiração e desenvolvimento auditivo. Supõe o desenvolvimento simultâneo do ouvido e do corpo por médio do gesto que ela inspira. Isto tem tudo a ver com o mais primitivo do ser desde o homem da pré-história, que é o associar movimento a algum tipo de som organizado. “A rítmica é antes de tudo um método de educação geral, uma espécie de solfejo corporal musical, que permite observar as manifestações físicas e psíquicas
dos alunos dando a possibilidade de analisar seus defeitos e de buscar corrigi-los” DALCROZE(apud RODRIGUEZ, 2015, pag.17).

Método Suzuki

De acordo com Shinichi Suzuki (1983), idealizador do Método Suzuki, qualquer criança é capaz de desenvolver habilidades a um nível elevado se metodologias adequadas forem aplicadas no treinamento. Segundo ele, a língua materna é um “método educacional perfeito em que o aprendizado ocorre com fluência e naturalidade, sem dificuldades ou fracassos. No processo inicial do aprendizado da língua, a criança ouve as mesmas palavras diversas vezes até ser capaz de pronunciá-las muito antes de aprender a ler e escrever. Sabe-se que, ao alcançar a idade entre cinco e seis anos, uma criança normal terá aprendido em torno de seis mil palavras do vocabulário falado por meio da audição, imitação e repetição (SLONE apud BORGES, 2011, p. 83). “A escuta diária do repertório em estudo ajudará no desenvolvimento da percepção auditiva da criança e na memorização da peça, já que a instrução inicial se faz por ouvido, sem a utilização de notação musical” (STARR apud BORGES, 2011, p. 83).

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O filósofo e educador Edgar Willems planteia na exposição de seu método musical, uma relação direta entre música e natureza. Em suas ideias filosóficas existe uma constante analogia entre a trilogia: Natureza, Homem e Musica sendo a primeira uma unidade da vida, a segunda a dualidade da mesma e a música o triple aspecto da natureza humana. Descreve quatro correspondências para a vida humana: a Matéria e o Espirito, o Som e a Arte. A Matéria corresponde à vida fisiológica. A afetiva e a mental corresponde à dualidade com o Espirito. “O Som encontra correspondência com o ritmo, à melodia e a harmonia, resultando nos elementos básicos da música”. (GAINZA, 1987).

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Na estratégia pedagógica começa o ensino pela intuição para depois durante o desenvolvimento afetivo musical conscientizar as vivências anteriores. Ele considera inatos os instintos: rítmico e tonal, respeita a ordem natural dos elementos da linguagem musical; Som, Ritmo, Melodia, Harmonia. O método aplica a fonomímica, a leitura relativa, reconhecer os sons desenhados previamente, subindo e descendo, a escala maior como referência.

O Método Zoltan Kodály.
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O método Kodály é global e intuitivo com base na utilização da voz cantada. Fundamentado no folclore húngaro, utiliza o sistema tonal e pode ser adaptado em qualquer cultura. É uma estratégia pedagógica que ensina a ouvir, ler e escrever música utilizando a fonomímica e o solfejo relativo. Exercita ditados de cânones melódicos, exercícios de audição interior, improvisação até afinar as distâncias entre os sons (intervalos) da escala maior. O método tem quinze cadernos organizados progressivamente a uma, duas e três vozes. Começa com obras folclóricas monódicas, conhecidas pela criança e continua com obras do Renascimento até o contemporâneo a duas e três vozes. O pentagrama vai aparecendo junto com as notas relacionando-as ao sonido intrínseco delas. Também aproveita um pouco da Rítmica Dalcroze em andar e marcar a pulsação junto com a melodia (CAEF, 2010)

Método Orff.

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Carl Orff, músico educador e compositor, foca no crescimento ontogênico da criança desenvolvendo ao indivíduo em todas as fases de sua evolução. Neste método exige uma constante criação sonora a partir do princípio Som – Movimento – Palavra. “Som, Movimento e Palavra são inseparáveis e formam uma unidade denominada: Musica elementar”, ORFF (apud GAINZA, 1987,p.106). Ele trabalha com canções de tradição oral e o instrumental Orff que está composto de instrumentos de percussão de placas de metal e de madeira, chocalhos, sinos, tambores, entre outros que são de fácil manipulação para cada idade. Utiliza o piano após o indivíduo estar preparado na vivência musical pois o considera muito complexo para a criança (GAINZA,1987).

O método Martenot

O método Martenot leva ao indivíduo a pensar música através do desenvolvimento da audição e do canto interior com técnicas de concentração e relaxamento corporal. Os elementos musicais são trabalhados individualmente para evitar distração. Concentração no ritmo vital, que aproveita dos gregos, ARSIS = atividade e THESIS (refluxo) = relaxamento. Ecos rítmicos, jogos musicais (da memória, dominó musical, cartas de elementos da música, etc.), ditados melódicos acompanhados de gestos nas alturas correspondentes. (CAEF, 2010). Maurice Martenot, engenheiro e compositor francês, parte da concepção de que a criança apresenta as mesmas reações psico-sensoriais e motoras que o homem primitivo, por isso é aconselhável trabalhar o sentido instintivo do ritmo em sua forma mais pura, descartando inicialmente as noções de medição e melodia.

 

Murray Schaffer.

Em Norte-América, o compositor e educador canadense Murray Schaffer, conhecido como o ecologista musical, utiliza um vocabulário ligado a diversas áreas como Acústica, Psicoacústica, Eletrônica, Jogos e Teoria da Informação, incorporando na educação o conceito de “paisagem sonora”. “Um dos propósitos desta parte do livro é dirigir os ouvidos dos ouvintes para a nova paisagem sonora da vida contemporânea e familiarizá-los com um vocabulário de sons que se pode esperar ouvir, tanto dentro como fora das salas de concerto” (SCHAFER, 1991, p.123). Ele também classifica os tipos de sons para incorporara-los ao fazer musical. “Mas uma coisa descobrimos que podíamos dizer. Os sons ouvidos podiam ser divididos em sons produzidos pela natureza, por seres humanos e por engenhocas elétricas ou mecânicas” (SCHAFER, 1991,p.125). Também fala de objetos sonoros em vez de tríades, envelopes em vez de sforzandos, transientes de ataque em vez de apoggiatura, frequência ou faixas de frequência em vez de sistema tonal, fon para volume e decibel para intensidade, deixando terminologias tradicionais em italiano para incorporar uma terminologia musical mais ligada com a música contemporânea. “O vocabulário básico da música se modificará. Falaremos talvez, de objetos sonoros, de envelopes e transientes de ataque, em vez de tríades, sforzando e appoggiatura” (SCHAFER, 1991, p. 122). “O método consagrado pela pedagogia moderna, que se baseia na psicologia infantil, é o método global… chama-se global porque sustenta que tudo conhecimento verdadeiro se baseia na percepção de unidades providas de sentido” (GAINZA, 1964, p.37, tradução nossa). É evidente que a transformação do ensino-aprendizagem musical abre as portas da percepção do séc. XX para o XXI à níveis mais finos de conhecimento, deixando metodologias baseadas no raciocínio lógico racional para dar lugar ao estudo do homem integral, priorizando a ciência da psicologia e a neurociência. “Por isso quis me referir aqui ao espírito da educação musical, que está profundamente unido à técnica pedagógica, que é a técnica humanizada, espiritualizada, mas também conscientizada, questionada, compreendida, recuperada como patrimônio pessoal de cada mestre” (GAINZA, 1987, p.100).

Hans-Joachim Koellreutter.

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A nova estética musical do Pós-modernismo foi diluindo, gradativamente, o dualismo dos elementos opostos. Surge um novo repertório de signos musicais que compreende ruídos e mesclas, natural ou artificialmente produzidos; desaparecem as barras de compasso, os valores de duração fixa, assim como, a pulsação predeterminada e a métrica. (KOELLREUTTER apud BRITO, 2009, p. 21). No Brasil, também na década dos ´40, o professor Koullreutter com uma metodologia fundamentada na teoria da forma e da percepção Gestalt trabalha os elementos musicais como um todo inseparável que deve ser percebido como tal para depois analisar as, massas sonoras, séries de sons, ritmos diluídos, entre outros elementos possíveis. Para Koellreutter, a música era entendida como um sistema de relações que se estabelecem na cultura, revelando o nível ou o modo de conscientizar o mundo em cada etapa da vida, em cada espaço ou tempo, agenciando, ao mesmo tempo, a transformação contínua de tais processos. A consciência, para ele, é o elo integrador de corpo e mente, de natureza e cultura: “a vida propriamente dita”, como ele repetia (BRITO, 2009, p. 27).

Cecilia Battaglia

Referencias

BORGES, Gláucia de Andrade. As canções folclóricas brasileiras mais conhecidas em minas gerais: características e possibilidades de sua utilização na educação musical e seu uso no ensino dos instrumentos de cordas. Revista MODUS – Ano VI / Nº 9 – Belo Horizonte – novembro 2011 – p. 81-95.

BRITO, Teca Alencar de. Por uma educação musical do pensamento: educação musical menor. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 21, 25-34, mar. 2009.

GAINZA, Violeta Hemsy de. La iniciación musical del niño. Buenos Aires: RICORDI AMERICANA S.A.E.C., 1964.

GAINZA, Violeta Hemsy de. Estudos de Psicopedagogia Musical. 1º ed – São Paulo: Summus Editorial LTDA, 1987.

RODRIGUES, Iramar. A Rítmica de Emile Jaques Dalcroze. Uma Educação Por e Para a Música, Apostila da Oficina de Rítmica, ETA/UFAL, Vol. I – 2015.

SCHAFER, R. Murray. O Ouvido Pensante. São Paulo: Editora Universidade Estadual Paulista, 1991.

 

 

 

 

 

Autor: Cecilia Battaglia

Cecilia Battaglia, cursando Mestrado em Arte Educação (IHAC/UFBA), e em Composición Músical y Nuevas Tecnologías (UNIR/ España), Licenciada em Musica, e Técnica em Musica/Piano, Especializada em Psicopedagogia e Arranjo Musical. Formada em Educação Musical e Bacharelado em Canto tem cursos de Composição Musical e Produção Musical (Berklee/EEUU), Monitor de Yoga e Eco-saúde (España), Metodologia Dalcroze e Willems, Técnica Alexander, Eutonia, Fisiologia da voz, Percepção Musical com M. del Carmen Aguilar (Bs.As./Argentina), e outros relacionados à pesquisa e prática músical, Terapias Alternativas e Neurociência (Argentina e Brasil). Cecilia Battaglia, studying a Master's Degree in Artistic Education (IHAC/UFBA), and in Musical Composition and New Technologies (UNIR/ Spain), Bachelor of Music, and Musical/Piano Technique, Specialized in Psychopedagogy and Musical Arrangements. With a degree in Music Education and a Degree in Singing, she has courses in Musical Composition and Musical Production (Berklee/USA), Yoga and Eco-Health Monitor (Spain), Dalcroze and Willems Methodology, Alexander Technique, Eutony, Physiology of the Voice, Musical Perception with M. del Carmen Aguilar (Bs.As./Argentina), and others related to musical research and practice, Alternative Therapies and Neurosciences (Argentina and Brazil). Cecilia Battaglia, cursando Maestría en Educación Artística (IHAC/UFBA), y en Composición Musical y Nuevas Tecnologías (UNIR/ España), Licenciada en Música, y Técnica Musical/Pianística, Especializada en Psicopedagogía y Arreglos Musicales. Licenciada en Educación Musical y Licenciada en Canto, cuenta con cursos de Composición Musical y Producción Musical (Berklee/EEUU), Monitor de Yoga y Eco-Salud (España), Metodología Dalcroze y Willems, Técnica Alexander, Eutonía, Fisiología de la Voz, Percepción Musical con M. del Carmen Aguilar (Bs.As./Argentina), y otros relacionados con la investigación y práctica musical, Terapias Alternativas y Neurociencias (Argentina y Brasil).

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