O papel das políticas afirmativas na arte

foto: Sebastião Salgado – Exposição Amazonia

Quando se começa a incrementar com mais intensidade o desenvolvimento de politicas afirmativas no Brasil? A necessidade de implementar força e resistência em contra do preconceito, da intolerância religiosa e a xenofobia é uma dívida antiga dos governos para com a sociedade. A partir da Conferencia da ONU em África do Sul entre agosto e início de setembro de 2001, Brasil se posiciona em diferentes instâncias para cada modalidade com propostas de políticas públicas afirmativas. De aí por diante, se foram organizando as ideias em atos, e praticas a cada dia mais efetivas no ideal de uma nova ordem de paz, justiça e fraternidade.
As modalidades estão relacionadas aos eixos de racismo, questões de gênero, xenofobia, intolerância religiosa. As propostas buscam diluir, um mundo ameaçado pela incompreensão e pelo ódio baseados na diferencia, e construir um lugar onde as diferencias sejam nossa maior riqueza.

Obras artísticas inspiradas em alguma política afirmativa

Década de 1960 – O corpo como território: ANA MANDIETA

‘Tree of Life’, 1976 – ‘Árvore da Vida’ (1976), uma das fotos em que Ana Mendieta se ‘‘funde’’ com a natureza

A primeira opção é uma das obras da exposição de México de 1974 de Ana Mendieta, artista cubana exilada em EEUU pelos familiares durante a Revolução cubana. Nesta ela utiliza como suporte o corpo integrado com a natureza. “Tree of life” de 1976 é uma performance onde a artista utiliza o corpo, barro, e vegetais do meio ambiente como materiais para criar sua arte. Se enquadra dentro da Land-Art e também alguns consideram sua obra como Arte conceitual. É arte performática conceitual feminista.

ANA MENDIETA: PARA CONHECER E ENTENDER A ARTE CONTEMPORÂNEA | SABRINA MOURA

Como ativista sempre questionou porque o movimento feminista da época estava liderado principalmente por mulheres brancas de classe média alta. Suas obras ainda mobilizam, e se identificam com o movimento de desconstrução de um modelo de imagem cultural do feminino, que permeia em todas as culturas, pois ainda recente, o movimento precisa estender suas assas tanto para o campo artístico, como também para a arte-educação. “…há uma discussão que tenta emergir lentamente em um campo pouco afeito a grandes mudanças. No em tanto, percebemos pouca articulação entre os trabalhos e a produção acadêmica já constituída sobre gênero, feminismos, arte e educação, especialmente em outros países.”(Loponte, 2013, p.16)
Ela trabalha com os elementos da natureza, respirando junto com eles, e assim construindo uma identidade sensível e autêntica. Se notam momentos de iluminação nas obras de esta artista, de muita intensidade, rebeldia, posicionamento feminista e existencial que até hoje nos representa.

O grito de ser diferente… A mulher compositora e a quarta onda do feminismo

Esta compositora paranaense é um exemplo desafiador e popularmente pouquíssimo conhecida no universo artístico brasileiro. Sua posição social e seus talentos de pianista e compositora brasileira pioneira na música eletroacústica a colocam em um lugar de importância na história da música brasileira e no mundo. Porém, muitas vezes desdenhada pelo machismo, até hoje com seus mais de oitenta anos é uma artista proativa e inspiradora. Durante os anos de ditadura militar saiu do país, foi concertista e também estudou composição desenvolvendo sua carreira artística principalmente no exterior do lado de alguns dos compositores de vanguarda da segunda metade do século XX, como Berio, Cage, Stockhausen. Em entrevista sobre seu trajeto explica seu contato com compositores brasileiros. “Aquí el compositor con el que tuve más contacto fue Claudio Santoro, hice los estrenos mundiales de muchas de sus piezas. Pero nunca interpreté ninguna música de su período nacionalista –no me interesaba- sino más bien la música de su período serial”.
Uma obra que escolho para este post é a ópera “Prostituta Sagrada”, uma peça feminista conceitual de música eletroacústica de 1993. A trama traz a mulher com seus verdadeiros valores.

Inori à prostituta sagrada – The Making Of

20/12/2018 – Jocy de Oliveira https://musicabrasilis.org.br/temas/mulher-compositora-e-quarta-onda-do-feminismo

[Conversando con…] Jocy de Oliveira https://sulponticello.com/iii-epoca/conversando-con-jocy-de-oliveira/

-RENATO, UM DE NÓS – Carlos Pronzato

O média-metragem “Renato Um de Nós”, do diretor argentino Carlos Pronzato, de 63 anos, radicado em Salvador (BA), é uma produção de 58 minutos.

Este diretor tem uma longa trajetória de filmes políticos, especialmente documentários, a exemplo de “Madres de Plaza de Mayo, Memória, Verdad, Justicia”, de 2009, e “1917, a Greve geral”, de 2020. Para realizar “Renato Um de Nós”, Pronzato passou dez dias em Curitiba, ao lado do vereador Renato Freitas (PT), cobrindo toda a mobilização na capital paranaense que buscava a absolvição do parlamentar.

O filme apresenta a versão do personagem principal sobre os fatos ocorridos que resultaram na cassação do vereador, posteriormente restituído ao cargo. “Em 5 de fevereiro de 2022, em todo o Brasil, movimentos sociais se reuniram para protestar contra os assassinatos de Moïse Kabagambe e Durval Teófilo, ambos motivados pelo racismo. Em Curitiba, o ato foi marcado em frente à Igreja do Rosário dos Homens Pretos. Em determinado momento, os manifestantes entraram na Igreja, o que rendeu cinco representações de vereadores de Curitiba pedindo a cassação do vereador Renato Freitas. Finalmente, numa clara decisão racista, a cassação aconteceu nos dias 22 e 23 de junho de 2022. Posteriormente, houve uma liminar que restituiu o vereador no cargo.”

Documentário completo

“Esse filme é uma homenagem ao Renato e toda a sua luta. Tenho para mim que ele é uma representação atual de Zumbi dos Palmares. É o Zumbi de Curitiba”, declarou o cineasta, poeta e diretor teatral em debate sobre o filme realizado no Rio de Janeiro. Para Renato Freitas, “ser vereador negro de esquerda numa cidade racista de direita é resistência diária”.
Esta obra artística em forma de documentário é um manifesto do racismo estrutural inserido na sociedade imperialista brasileira. A história contada é uma prova viva da luta do vereador Renato Fretas, agora eleito deputado estadual com 58 mil votos, que entrelaçada políticas afirmativas, em expressões decoloniais desde uma realidade existencial que esta figura política defende, e que se alinha com a proposta do grupo de pesquisadores da perspectiva teórica “Modernidade /Colonialidade” (MC).


“As principais categorias de análise do grupo se constituem nos conceitos e noções sobre o mito de fundação da modernidade, a colonialidade, o racismo epistêmico, a diferença colonial, a transmodernidade, a interculturalidade critica e pedagogia decolonial. invisibilidade e o silenciamento dos sujeitos que produzem “outros” conhecimentos e histórias”. (Oliveira, p.1)
É uma expressão artística contemporânea, que dialoga de forma interdisciplinar com a arte, a sociologia, e a a ciência política, entre outras.

Referencias

Século XXI – 2021 – Cristina Kubisch
https://christinakubisch.de/installations/il-respiro-del-mare-version-2021
ANA MENDIETA: PARA CONHECER E ENTENDER A ARTE CONTEMPORÂNEA | SABRINA MOURA: https://youtu.be/hRuQmpwHTcc
Hayward Gallery Exhibition Trailer: Ana Mendieta, Traces – https://youtu.be/anCsBjyem1o