A transição entre o séc. XIX e XX foi marcado pelos mestres pós-impressionistas que rompem definitivamente com o naturalismo, estabelecendo os novos parâmetros da Arte Moderna cada vez mais livre e independente. Os modernistas da primeira parte do início do séc. XX buscavam novas formas de se expressar. Isso aconteceu em todas as linguagens artísticas.
O primeiro momento com a eclosão da primeira guerra mundial o Expressionismo manifesta toda sua força de expressão com uma temática inspirada no sofrimento, fome, preconceito racial e religioso, abusos trabalhistas, das injustiças sociais e a busca pela sobrevivência. Assim o conceito de beleza inicia um processo de mudança incorporando novos elementos na realização artística. O que é belo? Essa pergunta vai ser discutida filosoficamente pois, até então uma visão romântica de um passado próximo prevalecia para o público e já não se encaixa mais. A nova realidade social e mundial era outra. A velocidade, a produção em massa, a vida na cidade longe da rotina do campo, o trabalho proletário e a intensa vida noturna…
Como consequência, as composições neste período expressam dissonâncias, silêncios longos que contrastam com intensidades sonoras que se confundem com ruído pela quantidade de notas nos acordes. Podemos encontrar exemplos disto na peça O Mandarim Maravilhoso de B. Bartok ou na “Le Sacre” de Stravinsky.
Os compositores, mas nacionalistas, como Heitor Villa-Lobos, Bela Bartok, Igor Stravinsky (de novo…ele compôs inspirado em todo tipo de música que surgia), exploram o recurso modal e rítmico e desenvolvem elementos da música popular com uma nova roupagem, sofisticando e aprofundando seu sentido.
Heitor Villa-Lobos, utiliza células rítmicas extraídas da música popular brasileira e Egberto Gismonti, por ex., faz o mesmo, incorporando timbres, rítmica e os fragmentos temáticos nacionalistas. Em “Sanfona’ e em “Lôro” na versão, do disco “Em Família” de 1981, faz música electro acústica com momentos de escalas atonais e outras modais, provocando um efeito dramático no espaço, improvisos de jazz ao estilo Miles Davis, podem encontrar pontos em comum com a peça “Deserts”, “Ionization”, de Edgar Varese.
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Edgar Varese -
Egberto Gismonti -
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Miles Davis
Para Egberto Gismonti o ruído se equilibra no contexto geral da música sem tantos contrastes e não usa o silencio demorado, não gosta. Só o utiliza para respirar e como recurso expressivo, ao contrário de John Cage que o utiliza como filosofia em muitas de suas composições.
Egberto Gismonti tem muitos exemplos que dão continuidade a evolução da música do séc. XXI. Outro exemplo eletroacústico dele o encontramos em “Dança das Cabeças” de 1976 com Naná Vasconcellos, entre muitos outros mais.
“O potencial acumulado das armas de guerra, sua capacidade mortífera e ruidosa, muito amplificada, estoura a dimensão individual do espaço imaginário e o silencia (…). A ecologia sonora do mundo estará a alterada, e ruído e silêncio entrarão com inevitável violência no templo leigo do som, a redoma da representação tonal em que se constituía o concerto. (O fim da Segunda Guerra Mundial aprofundará esse quadro: a bomba atômica anuncia uma forma definitiva de maximização do ruído e do silêncio – depois dela a história humana ganha um caráter póstero, ou, se quisermos, pós-moderno)” (WISNIK, 1989, p.41-53).
O que se escuta hoje no âmbito da música erudita parece ser pensado tomando em conta a ecologia sonora. Quando Wisnik se refere ao ruído lembra também a filosofia dos futuristas, o movimento dadaísta. A poluição sonora que ainda estava no seu início em comparação aos dias de hoje, acreditava em velocidade e no poder da máquina sobre o homem. E quando fala do silencio pode estar insinuando para lembrar o mundo interior, o religar-se, o ouvir-se, o autoconhecimento naquele momento dramático, que se expressa em tensões constantes de um mundo assolado pela guerra.
Hermeto Pascoal em “Mistérios do corpo” do DVD “Hermeto Brincando de Corpo e Alma”, ano 2012, pode ser um bom exemplo de ecologia sonora quando explora os sons do corpo, literalmente e também da boca e das palmas. “Viva o trem”. O recitar e a sobreposição elementos sonoros e a palavra como instrumento musical. Música concreta contemporânea construindo a ideia musical como uma colagem sonora como no final do disco Sargent Pepper dos Beatles, onde o trecho depois do final da canção “A day in the life”, é uma gravação acelerada de alguma de eles cantando… e nos dias de hoje se utiliza a edição de video.
No ciclo de canções atonais de “Pierrot Lunare”, de Arnold Shoenberg faz uma inovação com a técnica de Sprechgesang, na “oralização da melodia”, e podemos encontrar um pouco disso na técnica de canto do Rock desde Led Zepelin até Iron Maiden dos anos ´80 e ´90 , “The number of the best” por exemplo e, a uns anos Amy Winehouse imitando a voz rasgada no estilo de blues que foi utilizado por Gershwin em “Rapsodia em Blue” e na A Ópera dos Três Vinténs de Kurt Weill, e traz o ambiente das noites de cabaré. Hoje, talvez possa existir um exagero de ruído no Rock and Roll a bateria ficou demasiado forte, ou somente mal equalizada…
De Richard Strauss, em Also sprach Zarathustra, Op. 30 com a Música Programática, hoje estabelecida como música para cinema “monumental” e alguns videogames épicos.
Em outros compositores, mas místicos, como Scriabin, Holst, e talvez Debussy podemos encontrar elementos relacionados à filosofia da Harmonia das Esferas de Pitágoras. Também relembrando a Erick Satie, como fonte inspiração para o Minimalismo de Philip Glass, Monte Young e Moondog.
Enya e Loreena McKennitt trazem um pouco da ancestralidade celta uma mistura entre misticismo e folclore com elementos do Modalismo de Maurice Ravel e Manuel de Falla da musica flamenga.
Uma consideração sobre “Relacionando a música modernista”