Quais elementos comuns podemos encontrar entre a música de concerto contemporânea e a música popular na contemporaneidade?

Encontrando similitudes entre duas obras: Density 21.5 – Solo para flauta. Edgar Varese -1936 e o arranjo de uma canção “A ponte” de Lenine com a Martin Fondse Orchestra

O século XX pode ser abordado através das várias correntes musicais paralelas que se foram manifestando da virada do Século XIX para o XX. Possivelmente, estas mudanças, inspiraram uma resposta efervescente para as transformações sociais, artísticas e culturais que se vivia na época.

 

Já não se fala mais em escolas e sim em movimentos e tendências que se destacam pela unidade de orientação. A unidade de expressão do Impressionismo musical, que entra em lugares onde as tensões sonoras não se resolvem da forma tradicional criando outras expectativas, muitas vezes sem resolução. O compositor Debussy é o mais conhecido representante deste movimento chamado de Impressionismo. Em paralelo, Eric Satie defende a necessidade de mudanças na arte de compor, através da utilização de poucas notas e melodias simples e ricas em expressão.

O enorme caudal de estilos orientais, africanos, folclóricos influencia o pensamento da transição para o século XX sem chegar a se metabolizar num mesmo tempo. Pode-se pensar numa “nova renascença”, desta vez pensada como uma espécie de “autoconhecimento através da música”, pois alguns compositores reescrevem as ideias gregas de Pitágoras e sua Harmonia das Esferas, retomando o vasto espectro esotérico da aquela época.

 

A transformação estética da Arte, em todas as áreas desde o início do séc. XX deixou obsoleta a visão romântica e iluminista de duzentos anos atrás que mantinha uma certa “ordem” no fazer musical ocidental e que hoje não existe mais. Com isto me refiro a que, uma zona de conforto na qual a sociedade em geral, estava acostumada a ouvir e a apreciar Arte, foi transformada, e barulhos e ruídos foram incorporados como instrumentos no fazer musical. “A partir do século XX opera-se uma grande reviravolta nesse campo sonoro filtrado de ruídos, porque barulhos de todo tipo passam a ser concebidos como integrantes efetivos da linguagem musical”. (Wisnik, 1989. p.39)

Composição VII, 1913 – Wassily Kandinsky

Ligando os pontos encontramos hoje, no multiculturalismo, uma nova realidade mundial. As culturas de massa dominaram o mercado musical de tal forma que não podemos evitar ouvir uma grande variedade de influências sonoras da música moderna e pós-moderna erudita nos arranjos de música popular. A cultura da música popular atual atua em várias frentes e provoca uma junção de ritmos, estilos e diversidades que busca, muitas vezes, representar novos timbres e ritmos de diversos lugares. Isto pode ser um ponto em comum com o início do século XX e os compositores modernistas, como por exemplo Debussy, quando explorou as escalas orientais na sua época.

 

No universo académico contemporâneo se apresentam diversos métodos de composição, que hoje compositores e arranjadores aproveitamos de muitas formas. A herança da música de concerto está presente na música popular de qualidade. De buscar uma quebra da tonalidade para a atonalidade, hoje se pode pensar e observar como os elementos sonoros, ruídos e efeitos se enriquecem com melodias tonais ou modais. Idealmente, o compositor estuda e se identifica com alguma técnica de composição, sem perder a identidade popular e expressar o que “está no ar”. E inevitável hoje encontrar a união de elementos da cultura popular unida à tecnologia computacional.

Desde o nacionalismo de Villa-Lobos, até os “últimos anos” do Modernismo Brasileiro com o movimento Tropicália, e após a ditadura militar com o Rock dos anos ´90 muitas readaptações e transformações vem acontecendo na música brasileira, e a cultura popular está muito presente no ambiente mais acadêmico. Um exemplo é o compositor Lenine com a música Organ Erê, que com percussão vocal (ecologia sonora) cria o som dos tambores que lembram um terreiro da Umbanda e a letra da sabedoria popular: “…A chave da inocência”. “A ecologia sonora no mundo moderno estará alterada, e ruido e silêncio estarão com inevitável violência no templo leigo do som, a redoma da representação tonal em que se constituía o concerto” (WISNIK, 1989, p. 39)

Duas obras

Density 21.5– Solo para flauta. Edgar Varese -1936 revisada em 1946. É uma peça atonal. Cria planos de tensão sonora até o fim da música. Vai crescendo passando por pequenas melodias que suavizam as dissonâncias sem descansar em nenhuma tonalidade. Cria espaços de silêncio e volta ao tema sustentando as tensões. Explora a extensão do instrumento e um pouco da técnica estendida do mesmo. Assim, Lenine que podemos considerar um bom exemplo representativo da música popular do séc. XXI na versão da A ponte – Lenine & Martin Fondse Orchestra, tem um arranjo utilizando terças menores, cromatismos e acordes dissonantes que criam um efeito dramático nesta versão da canção. Também o piano em contraponto rítmico com as cordas soa quase atonal pelo cromatismo que sustenta a melodia tonal. Também tem o elemento orquestra como fator comparativo em relação ao erudito.

Cecilia Battaglia

Referencias

WISNIK, José Miguel. O som e o sentido: uma outra história das músicas. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

Autor: Cecilia Battaglia

Cecilia Battaglia, cursando Mestrado em Arte Educação (IHAC/UFBA), e em Composición Músical y Nuevas Tecnologías (UNIR/ España), Licenciada em Musica, e Técnica em Musica/Piano, Especializada em Psicopedagogia e Arranjo Musical. Formada em Educação Musical e Bacharelado em Canto tem cursos de Composição Musical e Produção Musical (Berklee/EEUU), Monitor de Yoga e Eco-saúde (España), Metodologia Dalcroze e Willems, Técnica Alexander, Eutonia, Fisiologia da voz, Percepção Musical com M. del Carmen Aguilar (Bs.As./Argentina), e outros relacionados à pesquisa e prática músical, Terapias Alternativas e Neurociência (Argentina e Brasil). Cecilia Battaglia, studying a Master's Degree in Artistic Education (IHAC/UFBA), and in Musical Composition and New Technologies (UNIR/ Spain), Bachelor of Music, and Musical/Piano Technique, Specialized in Psychopedagogy and Musical Arrangements. With a degree in Music Education and a Degree in Singing, she has courses in Musical Composition and Musical Production (Berklee/USA), Yoga and Eco-Health Monitor (Spain), Dalcroze and Willems Methodology, Alexander Technique, Eutony, Physiology of the Voice, Musical Perception with M. del Carmen Aguilar (Bs.As./Argentina), and others related to musical research and practice, Alternative Therapies and Neurosciences (Argentina and Brazil). Cecilia Battaglia, cursando Maestría en Educación Artística (IHAC/UFBA), y en Composición Musical y Nuevas Tecnologías (UNIR/ España), Licenciada en Música, y Técnica Musical/Pianística, Especializada en Psicopedagogía y Arreglos Musicales. Licenciada en Educación Musical y Licenciada en Canto, cuenta con cursos de Composición Musical y Producción Musical (Berklee/EEUU), Monitor de Yoga y Eco-Salud (España), Metodología Dalcroze y Willems, Técnica Alexander, Eutonía, Fisiología de la Voz, Percepción Musical con M. del Carmen Aguilar (Bs.As./Argentina), y otros relacionados con la investigación y práctica musical, Terapias Alternativas y Neurociencias (Argentina y Brasil).

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